Idade Média : contextos, celtas, mulher, Carmina Burana e ressurgências atuais

 

 

  A Idade Média, com seus dez séculos de abrangência, configura um mosaico de etnias e culturas, de lendas e saberes que ainda hipnotizam o imaginário do século XXI e instigam a reflexão. É o tempo dos castelos, das justas, da alquimia, das canções de gesta e dos romances de cavalarias, do reino de Artur e da Távola Redonda, da mística do Graal, do mago Merlin e do maravilhoso das fadas, da feiticeira Morgana, de Melusina, de Loreley, da Dama do Lago.

  Idade Média da hagiografia, dos alaúdes, dos símbolos e das alegorias, dos sinos e das guerras santas, dos templários, das bruxarias, das iluminuras, dos jograis e saltimbancos. Idade Média dos menestréis e trovadores, da vassalagem amorosa, da peste negra, das danças macabras da morte, das procissões penitenciais, do feudalismo e dos primeiros anúncios da burguesia, da Dama e do Unicórnio, das heresias, das peregrinações, do País da Cocanha, da floresta de Brocéliande, da Suma Teológica de Tomás de Aquino, do Livro de Horas do Duque de Berry, das ordens mendicantes, da mulher considerada “Porta do Inferno”. Idade Média dos recolhimentos e de cilícios, dos brasões, das gárgulas, das cruzadas, das indulgências e das prebendas, das universidades emergentes laicizando o saber, da Patrística e da Escolástica, da formação das línguas vernáculas e dos futuros Estados europeus. Idade Média da querela dos universais, da festa dos loucos, dos fabliaux, das reformas de Cluny e Cister, do doce estilo novo, do teatro religioso e profano, do fisicismo humanista de Chartres, das pontes levadiças, da lírica de Petrarca, das lâminas do tarô, de Boccaccio, das epidemias, da cósmica harmonia do “Cântico das criaturas”, de Francisco de Assis, e “do amor que move o Sol e as altas estrelas”.

  Idade Média da rosa mística, da paixão interdita de Abelardo e Heloísa, do filtro mágico de Tristão e Isolda, do amor de Dante por Beatriz, e de Petrarca por Laura, das corporações, dos cátaros, da lírica provençal, de Carlos Magno e seus paladinos, do Papado de Avignon, de Rolando e de Cid, do herege Éon de l'Étoile, da sedutora Aliénor da Aquitânia, da epopeia dos Nibelungos, do resplendor da mulher celta, das coitas de amor da lírica galaico-portuguesa.

  Idade Média, dos Carmina Burana, poemas atribuídos aos goliardos, com seus textos musicados no século XX por Carl Orff. Idade Média do cristianismo apocalíptico e ascético, do temor ao pecado, das prebendas, do jogo de dados e do vinho nas tabernas, dos templos românicos e das catedrais góticas, abrindo-se pelo rendilhado das rosáceas para a paisagem citadina de uma Europa Ocidental nas matinatas do Renascimento.

 

Mauro Carreiro Nolasco

Editor